DOMÍNIO DA VIDA EM
DWORKIN
O debate atual sobre o início e o
fim da vida ocorre principalmente no âmbito religioso. Essa querela existe há
milênios. Conforme Dworkin, o aborto, “que significa matar deliberadamente um
embrião humano em formação, e a eutanásia, que significa matar deliberadamente
uma pessoa por razões de benevolência, constituem, ambos, práticas nas quais
ocorre a opção pela morte” (2009, p. 01). No aborto, opta-se pela morte antes
que a vida tenha começado; na eutanásia, “depois que tenha terminado” (DWORKIN,
2009, p. 01).
O debate sobre a eutanásia passou a
ser recorrente. “Os médicos começam agora admitir abertamente algo que a
profissão costumava manter em segredo: que os médicos às vezes matam os
pacientes que pedem para morrer, ou os ajudam a acabar com a própria vida” (DWORKIN,
2009, p. 01). As leis nos países ocidentais não permitem isso[1]. Mas o parlamento holandês
“declarou que os médicos que o fizerem não serão punidos se observarem certas
normas jurídicas” (DWORKIN, 2009, p. 01).
Já em relação ao aborto, o debate é
ainda mais feroz do que em relação a eutanásia. “A guerra entre os grupos
antiaborto e seus adversários é a versão norte-americana das terríveis guerras
civis religiosas da Europa do século XVII” (DWORKIN, 2009, p. 02-3). Ao tratar sobre o aborto, os dois lados não
chegam a um consenso.
Um dos lados
acredita que o feto humano já é um sujeito moral, uma criança não nascida, a
partir do momento da concepção. O outro acredita que um feto recém-nascido não
passa de um aglomerado de células sob o comando não de um cérebro, mas apenas
de um código genético, e que, nesse caso, é uma criança tanto quanto um ovo
recém-fertilizado é um frango (DWORKIN, 2009, p. 11).
Os argumentos utilizados pelos dois lados
são incompatíveis. Mesmo assim, uma solução é necessária; uma resposta ao
problema do aborto é urgente. Os oponentes ao aborto tem dois tipos de
argumentos. O primeiro afirma que a vida humana inicia na concepção e que o
feto é uma criatura com interesses próprios. O aborto, destarte, é um
assassinato. O segundo diz que
a vida humana tem
um valor intrínseco e inato; a vida humana é sagrada em si mesma; o caráter
sagrado da vida humana começa quando sua vida biológica se inicia, ainda antes
de que a criatura à qual essa vida é intrínseca tenha movimento, sensação,
interesse ou direitos próprios (DWORKIN, 2009, p. 13).
Um dos argumentos diz que o feto tem
direitos próprios. Assim como “alguém pode considerar errado retirar o suporte
vital de um paciente em estado vegetativo irreversível, ou ajudar um paciente
terminal de câncer a pôr fim a própria vida” (DWORKIN, 2009, p. 14), também é
errado destruir um feto. Já o segundo argumento afirma que a vida humana é
sagrada.
DWORKIN,
R. Domínio da vida: aborto, eutanásia
e liberdades individuais. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes, 2009.
[1]
Conforme Dworkin, “em 1991, um médico nova-iorquino revelou que havia receitado
pílulas letais a uma paciente de leucemia, dizendo-lhe quantas deveriam tomar
para morrer. A paciente havia seguido suas instruções, e coube a um grande júri
decidir se o médico devia ser processado por assistência ao suicídio, um crime
que pode ser punido com a pena de prisão. O grande júri decidiu que não. Em
1992, na Inglaterra, um médico injetou cloreto de potássio em uma paciente de
artrite reumatoide que agonizava em meio a dores horríveis e implorava que a
matassem; o médico registrou a injeção no histórico médico da paciente e foi
processado e condenado por tentativa de homicídio” (2009, p. 01-2).
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